domingo, 14 de janeiro de 2024

Cana-de-açúcar


Cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar é uma planta proveniente do sul e sudeste asiático, sendo cultivada em diferentes países, com destaque para o Brasil, Cuba, África do Sul e Moçambique.

A cana-de-açúcar já era conhecida, em Portugal, desde os primeiros reis, tendo sido introduzida pelos portugueses na Madeira, nos Açores, em Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe, na costa ocidental africana e no Brasil, que hoje é o maior produtor mundial.

Nos séculos XV e XVI foi uma das principais culturas existentes nos Açores, tendo tido maior desenvolvimento na ilha de São Miguel.

De acordo com Gaspar Frutuoso, as primeiras plantas vieram da ilha da Madeira, de onde terão vindo, mais tarde, algumas pessoas conhecedoras do processo de fabrico do açúcar.

Ao descrever a ilha de São Miguel, aquele cronista menciona a existência de vários engenhos de açúcar em Vila Franca do Campo e refere uma causa para o fracasso do cultivo da cana-de-açúcar nos seguintes termos:

“Da Ponta de São Pedro corre uma rocha baixa, onde há muitos pessegueiros, por espaço de uma octava parte de uma légua, até à ribeira de Água de Alto, que se chama assim por cair a sua água de um lugar alto; naquela ribeira estiveram quatro engenhos de açúcar, no tempo que as canas dele floresciam, um de Baltasar Pardo, da ilha da Madeira, com companhia de Sebastião Gonçalves, natural da mesma Vila, o qual foi o primeiro engenho de água que houve nesta ilha, porque o primeiro sem água foi de mó de engenho; e acima dele outro de António Fernandes, o Gramático, que fez com companhia de Baltasar de Armenteiros e doutros; mais acima, outro de Gabriel Coelho, em companhia de António de Pesqueira, burgalês, e de Simão da Mota e doutros; estes todos estão desfeitos de tudo, sem haver sinal deles, depois que o bicho das canas prevaleceu; está outro, que foi de Pero da Costa e outros companheiros, e agora é parte dos Crastos, que está desaparelhado e não se usa dele, ainda que as oficinas estão inteiras, em uma fajã mui alegre, cercada de uma rocha baixa, onde houve muitas árvores de figueiras e pereiras e de deleitosas sombras, de que ainda hoje ficou algum sinal …”

Nas restantes ilhas pouca informação existe sobre o cultivo ou tentativas de cultivo da cana-de-açúcar, com exceção para o Faial, onde chegou a ter alguma importância. Assim, de acordo com Marcelino Lima, citado por Carreiro da Costa (BCRCAA, nº 10), “a cultura da cana sacarina foi praticada no Faial, donde se exportava todo o açúcar para o Continente e para a Flandres.”

A cana-de-açúcar ou cana-sacarina (Saccharum officinarum L.), da família Poaceae, é uma planta herbácea com colmos cilíndricos de cor verde amarelado e com folhas lineares.

A cana-de-açúcar, para além da produção do açúcar, é usada para a produção de caldo de cana, bebidas alcoólicas, produtos usados na medicina e biocombustíveis, como o etanol e o biometanol.

O seu uso na alimentação é vantajoso, pois é rica em vitaminas e minerais. No que diz respeito a propriedades medicinais, sabe-se que o melaço de cana-de-açúcar é rico em polifenóis que podem agir como antioxidantes.

No passado, embora não fosse muito fácil encontrar, as crianças, em Vila Franca do Campo, tiravam a casca de pedaços do caule e mastigavam, obtendo um suco adocicado. Recordo que faziam o mesmo com os caules do milho (milheiros).

Na ilha de São Miguel, para a produção de açúcar a cana acabou por ser substituída pela beterraba sacarina que no século XIX era usada para a alimentação do gado bovino. A autorização para a construção de uma fábrica para a laboração da beterraba foi dada em 1903 e a mesma foi instalada em Santa Clara, em 1906.

Em 1969, a fábrica foi comprada pela SINAGA (Sociedade Indústrias Agrícolas Açoreanas), empresa que na década de 60 chegou a transformar 200 mil toneladas de beterraba.

Teófilo Braga

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