segunda-feira, 1 de janeiro de 2024
Cedro-do-mato
Cedro-do-mato
O cedro-do-mato, cedro-das-ilhas, cedro-da-terra ou zimbro (Juniperus brevifolia (Seub.) Antoine é uma árvore, a única conífera existente nos Açores que não foi introduzida, que pertence à família Cupressaceae.
Endémico dos Açores, existente em todas as ilhas exceto na Graciosa, embora nalgumas delas a sua presença seja muito rara, o cedro-do-mato é uma espécie perenifólia que pode medir até 12 m de altura. O cedro-do-mato tem uma copa larga e geralmente apresenta um tronco recurvado. As folhas são agulhas em grupos fechados, com duas bandas brancas na parte superior.
De acordo com Vieira, Moura e Silva (2020) recentemente foram descritos dois novos taxa endémicos, o Juniperus brevifolia maritima que vive abaixo dos 100 metros de altitude, no passado vimos um exemplar, entretanto já desaparecido, junto ao Campo de Futebol de Rabo de Peixe, muito próximo da famosa gruta onde foi encontrada a Torá (livro sagrado do judaísmo), e o Juniperus brevifolia montanum que vive entre os 850 e os 1500 metros de altitude.
Em algumas ilhas dos Açores, nomeadamente, Faial, Pico, São Jorge, Terceira e São Miguel sobre os ramos dos cedros é possível encontrar uma planta hemiparasita verde-amarelada denominada espigo-de-cedro (Arceuthobium azoricum). De acordo com Rui Elias, a planta é rara no Faial e em São Miguel.
A presença do cedro-do-mato nas várias ilhas dos Açores é mencionada por Gaspar Frutuoso nas Saudades da Terra. Assim, referindo-se à ilha de São Miguel, escreveu o seguinte:
“Chegando aqui às ilhas os novos descobridores, tomaram terra no lugar, onde agora se chama a Povoação Velha, pela que ali fizeram depois, como adiante contarei, e, desembarcando antre duas frescas ribeiras de claras, doces e frias águas, antre rochas e terras altas, todas cobertas de alto e espesso arvoredo de cedros, louros, ginjas e faias, e outras diversas árvores, deram todos, com muito contentamento e festa, graças a Deus, não as que por tão alta mercê se lhe deviam, senão as que podem dar uns corações contentes com o bem tão grande que tinham presente, desejado por muitos dias e com tanto trabalho e enfadamento de importunas viagens por tantas vezes buscado.”
No passado já longínquo, no início do povoamento, terão existido grandes bosques de cedro-do-mato com exemplares de grandes dimensões de tal modo que os seus troncos serviram para a obtenção de vigas e pranchas usadas em igrejas, conventos e outros edifícios. A este propósito Carreiro da Costa, citando Bernardino de Sena Freitas, escreveu o seguinte:
“Realmente, apesar de todas estas calamidades, o mato do interior de S. Miguel continuava a constituir uma grande e apreciável fonte de riqueza, porque destruída coo fora a Igreja Matriz de Vila Franca do Campo com a aludida subversão, em 1522, o capitão donatário Ruy Gonçalves da Câmara, segundo de nome, ordenou o corte, no Vale das Furnas, de grande quantidade de cedros, para o tecto, e de muitas outras madeiras.”
A sua madeira, também, foi usada como combustível, para o fabrico de carvão, na construção de barcos e em marcenaria.
O médico Acúrcio Garcia Ramos, em 1871, mencionou o uso de preparados de cedro-do-mato, na medicina popular, como diuréticos e tónicos.
Na ilha Terceira, conheci Manuel José Dias Júnior (1913-1999), natural de São Miguel, mas que viveu em Angra do Heroísmo durante meio século que, para além de comerciante e jornalista, também foi artesão. Com efeito, ninguém como ele se dedicou à talha em madeira de cedro-do-mato, explorando essencialmente motivos etnográficos.
Hoje, o cedro-do-mato é cada vez mais usado como planta ornamental, em alguns jardins públicos e privados, como o Jardim do Palácio de Santana, o Jardim José do Canto e o Parque Terra Nostra, na ilha de São Miguel.
Em 2019, Raimundo Quintal, especialista em fitogeografia, que desde 1983 tem vindo a estudar a fitodiversidade de parques e jardins dos Açores, sugeriu a classificação do cedro-do-mato do Campo de Golfe das Furnas como árvore de interesse público.
Teófilo Braga
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