domingo, 14 de janeiro de 2024
Inhame
Inhame
Alguns autores consideram que o inhame é originário das florestas do Gana, na África Ocidental, enquanto outros afirmam que o mesmo provém do continente asiático, da Índia, do Bangladesh e de Myanmar.
O inhame é cultivado nos Açores desde o início do seu povoamento, havendo referência ao mesmo no Livro Saudades da Terra, de Gaspar Frutuoso. No livro VI, referindo-se há ilha Terceira, Frutuoso escreveu:
“É esta ilha abundantíssima de trigo de várias castas, anáfil, barbela, tremês, pelado, canoco, que ora responde a doze, catorze e vinte moios por moio de terra. No tempo antigo respondiam a sessenta moios por moio, e o mesmo a cevada, centeio, milho miúdo e zaburro. E dá todo o género de ligumes (sic), grãos, chíchoros (sic), lentilhas, favas, ervilhas, junça, inhames e betatas (sic), e toda a sorte de hortalice muito boa, em grande abundância, como melões, pepinos, rábãos, couves murcianas, nabos, abobras de muitas castas, e cardos.”
O Dr. Carreiro da Costa, no número oito do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, publicado em 1948, afirma que a cultura do inhame era já praticada nas nossas ilhas na segunda metade do século XVI.
De acordo com o mesmo autor, nos Açores, eram cultivadas três variedades de inhame (branca, roxa e vermelha) e o cultivo podia ser a seco ou em água. Sobre o cultino a seco, escreveu:
“…costuma iniciar-se em Fevereiro, abrindo-se primeiramente na terra, à distância de 60 a 70 centímetros, “covoletas” de 10 centímetros de profundidade e outro tanto de diâmetro, nas quais se coloca em seguida um pouco de estrume e sobre este a corôa, isto é, a parte superior da soca tuberosa do inhame.”
O inhame (Colocasia esculenta (L.) Schott), também conhecido por coco, soca, minhotos (inhames pequenos), que pertence à família Araceae, é cultivado em todas as ilhas dos Açores., mas também pode ser encontrado escapado de cultura.
O inhame é uma planta herbácea de pequeno porte, raramente ultrapassando 1 metro de altura. As folhas verde-escuras são bastante grandes e em forma de coração, apresentando um longo pecíolo. O caule é subterrâneo e apresenta uma forma arredondada ou oval de cor parda ou arroxeada, sendo branca no interior. As flores podem ser encontradas entre os meses de setembro e dezembro.
O Dr. Carreiro da Costa no texto já mencionado afirma que o inhame é “muitíssimo apreciado pela gente pobre das freguesias rurais que o come geralmente cozido em água e sal e, por vezes, depois de cozido, frito, às rodelas e pulverizado com açúcar e canela”.
Referindo-se a São Jorge, Manuel Teixeira Brasil , no seu livro “Algumas notas sobre a cultura do inhame em São Jorge”, publicado em 1989, escreve que “o inhame era comida de escravo e das classes desfavorecidas” e que na casa das classes abastadas só era usado em períodos “de crises alimentares ou como prato apetitoso, em cuja ementa dos mais tradicionais em São Jorge, citamos os inhames com linguiça, e, inhames com torresmos de cabinho.”
De acordo com um texto publicado no âmbito do projeto AgricoMAC (http://www.agricomac.eu/2portug/inhameazores2.htm) “o inhame para ficar bem cozido e saboroso, deve ser cozinhado durante várias horas, fica assim preparado para ser utilizado cozido ou frito, como acompanhamento da maioria dos pratos da cozinha açoriana. Pode também ser servido com açúcar e sumo de limão, ou simplesmente com mel, tornando-se numa excelente sobremesa.”
Alguns autores apontam como indicações medicinais dos inhames, entre outras, as seguintes: desnutrição, convalescença, falta de energia, anemia, edema reumático.
Teófilo Braga
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