sexta-feira, 5 de janeiro de 2024
Silvas
Silvas
A silva, silvado-bravo ou silva-brava (Rubus ulmifolius Schott) que se encontra naturalizada nos Açores, é uma planta pertencente à família Rosaceae, oriunda da Europa e norte de África. Nos Açores, pode ser encontrada em todas as ilhas.
A silva foi trazida para os Açores pelos primeiros povoadores para servir de sebe, sendo também usada para alimentação de gado caprino. Sobre o assunto, Gaspar Frutuoso escreveu que as mesmas foram trazidas para Ponta Delgada por Maria Gonçalves “para com elas fazer tapumes nos pomares, hortas e campos” e que “muitos homens procuram ter esta criação de cabras nesta ilha, por haver muitas silvas nela, que é seu mais principal pasto.”
A silva é um arbusto sarmentoso, prostrado ou trepador, com 2-3 m de comprimento. As folhas são pecioladas de três a cinco folíolos, as flores, que surgem de março a outubro, são rosadas a esbranquiçadas e o fruto é formado por pequenas drupas que ficam negras quando maduras.
Os frutos são usados para o fabrico de licores e do afamado doce de amora, o qual, segundo escreve Augusto Gomes, no livro “Cozinha Tradicional da Ilha Terceira”, faz-se do seguinte modo: “leva-se a cozer em um tacho, quantidades iguais de amoras e açúcar, até atingir a consistência desejada.”
As silvas são também usadas com fins medicinais, sendo também citada como umas das plantas utilizadas na medicina popular dos Açores.
Em 1894, Joaquim Cândido Abranches, no seu livro “Medicina Popular Michaelense”, escreveu o seguinte: “Os rebentos novos da planta mastigados são bons contra a inflamação da garganta; os frutos em calda de açúcar contra a disenteria, e em licor acalmam as dores do ventre”.
Silvano Pereira, por seu lado, em 1953, no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, mencionou que “as extremidades tenras dos seus rebentos (olhos de silva), bem como as raízes, são empregadas em decocto, como antidiarreico”.
Segundo o inquérito por nós realizado em 1988, na Ribeira Chã, a silva era usada em infusão no tratamento da diarreia e o “mastigar o caule do olho da silva” no tratamento das infeções da boca.
Endémica dos Açores, existe a silva-mansa ou silvado-manso (Rubus hochstetterorum Seub.) que, Segundo Rui Bento Elias, não pode ser encontrada nas ilhas de São Miguel e Graciosa. Esta é usada essencialmente na alimentação, pois os seus frutos também são comestíveis e servem para fazer compotas e licores.
Diogo de Chagas, no século XVII, ao descrever a ilha das Flores já menciona a existência das duas espécies de silvas. Assim, segundo ele, citado por Carreiro da Costa, no BCRCAA, nº 10, naquela ilha existiam “muitas e boas frutas silvestres e em muita quantidade como são árvores de silvas de mato e que lá chamam silvas mansas (por não terem tantos picões, como estas que vieram do Reino, para estas ilhas, as quais naquela Ilha chamam silvas bravas e não fazem caso do fruto) que são tão grandes como de amoreiras e maiores e de tão bom e melhor sabor e quando maduras são de cor negra e quanto mais negro mais perfeita”.
A silva (ou silvado) surge em várias quadras do cancioneiro popular. Teófilo Braga (Ponta Delgada, 24 de fevereiro de 1843- Lisboa, 28 de janeiro de 1924), no livro “Cantos Populares do Arquipélago Açoriano”, transcreve as seguintes quadras:
O silvado na parede
Vae comer à outra banda;
Teus olhos hão-de ser meus,
Ainda que eu corra demanda.
Uma silva, duas silvas
Fazem uma silva emmoutada;
Uma pica, outra arranha:
Com silvas não quero nada.
Quem quizer que a silva pegue,
Faça-lhe um fundo valado;
Quem quizer o amor firme,
Traga-o escandalizado.
Teófilo Braga
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