domingo, 28 de janeiro de 2024

Cana


Cana

A cana ou cana-viera, na Madeira (Arundo donax L.), é uma erva perene que pode atingir até 6 m de altura, rizomatosa, com caules cilíndricos ocos, pertencente à família Poaceae. Apresenta folhas de cor verde-pálido a verde-azulado, de forma lanceolado-linear e glaucas. As flores, que surgem de setembro a novembro encontram- se reunidas em panículas.

Originária da Região Mediterrânica, a cana está espalhada por todas as ilhas dos Açores, podendo ser encontrada em falésias, zonas costeiras, locais abandonados, margens de ribeiras, etc., normalmente até 600 metros de altitude.

De acordo com Gabriel (2019) as canas que “foram introduzidas no arquipélago para a estabilização de terrenos e taludes e a separação de parcelas de terreno”, são consideradas hoje uma espécie invasora.

Para além dos fins mencionados, as canas foram também usadas como suporte para as videiras, nomeadamente na costa sul da ilha de São Miguel, utilizadas na construção de gaiolas ou de armadilhas (alçapões) para a apanha de pássaros e ainda como brinquedo para as crianças, nas chamadas buzinas.

Sobre a cana e os seus usos, em 1953, o Eng. Agrónomo Arlindo Cabral, no boletim nº 17, da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores escreveu o seguinte:

“Por toda a parte ela aparece, mais que não seja para fornecer matéria-prima para tutores, latadas, caramanchões, fabrico de objetos caseiros, etc., ou por conquista natural de terrenos incultos. Porém, onde a vemos mais generalizada a sua cultura ordenada e uso intenso é, sem dúvida, na ilha do Faial, especialmente na freguesia dos Cedros. Realmente, vemo-la aí a guarnecer praticamente todas as terras de cultura, em sebes educadas. Além da preciosa defesa que representa como cortina de abrigo, ela veda, fornece a folhagem para alimentação do gado (antes do desbandeiramento do milho e depois da colheita deste) e, com os seus colmos, são construídas sebes mortas e caniçados (são cilindros feitos com uma esteira de cana rachada) para conservar o milho em grão.”

José Brandão de Oliveira, no texto “Espécies vegetais usadas nos Açores na formação de sebes, publicado em 1985, inclui a cana no grupo das espécies usadas como cortinas de abrigo e/ou divisórias em pastagens. Sobre a planta escreveu o seguinte: “Frequente em sebes junto à costa (até à beira da rocha) muitas vezes em parcelas que outrora foram de vinha ou de cultura arvense. Maior utilização em S. Miguel e Faial.”

No seu livro “Plantas Medicinales El Dioscórides renovado”, publicado em 1988, Pio Font Quer, sobre a cana refere que segundo a crença popular ela apresenta propriedades diuréticas e lactífuga.

Maria Manuela Silva, numa dissertação intitulada “Plantas Medicinais dos Açores”, apresentada à Universidade dos Açores, em 1992, menciona que a cana “possui uma acção hipotensiva e antiespasmódica, que se deve aos alcalóides indólicos como a bufotenidina…” e acrescenta que “em medicina popular atribuem a esta planta propriedades diuréticas e anti-galactagogas, mas estas propriedades ainda não foram demonstradas…”

Nos vários questionários aplicados durante vários anos, na ilha de São Miguel, com vista a conhecer as plantas usadas na medicina popular, nenhum respondente mencionou o uso da cana e na bibliografia sobre plantas medicinais dos Açores apenas Corsépius (1997) menciona que “a própria cana e o rizoma fresco cortado às rodelas” apresenta propriedades diuréticas e antigripais”.

21 de janeiro de 2024
Teófilo Braga

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