quinta-feira, 6 de junho de 2019


PERCURSO PEDESTRE “SERRA DO TOPO- FAJÃ DE SANTO CRISTO- FAJÃ DOS CUBRES (SÃO JORGE)”

O percurso começa a muito pouca distância, a Leste do Piquinho da Urze (711 m), sobre a Fajã dos Vimes, sensivelmente a meia distância entre a ribeira dos Vimes e a do Capadinho.

O Piquinho da Urze apresenta a sua morfologia bastante alterada, pois encontra-se na zona geologicamente mais antiga da ilha, onde a erosão teve mais tempo para fazer sentir os seus efeitos.

Muito perto do início do percurso pedestre, localiza-se o Parque Eólico de São Jorge, que na altura da sua entrada em funcionamento, em 1991, possuía quatro aerogeradores com uma potência instalada de 400 kW. Com a sua implementação pretendia-se, por um lado, aproveitar os recursos endógenos da ilha e, por outro lado, conseguir uma maior autonomia energética e assim poupar no consumo de combustível.

Na descida, antes de se chegar à conhecida Fajã da Caldeira de Santo Cristo, passa-se pela Caldeira de Cima. Nesta povoação, que foi habitada até 1980, ainda é possível vermos algumas casas e ruínas de alguns dos sete moinhos que chegaram a existir ao longo da ribeira.

Depois de se atravessar a ponte, datada de 1967,existente na Caldeira de Cima, continua-se a descer até à Caldeira de Santo Cristo. Aqui, a arriba apresenta uma altitude que varia entre os 750 a 800 m. Foram os materiais caídos da arriba, que depois de trabalhados pelo mar, formaram cordões de cascalheiras de praia que limitam a laguna.

A lagoa da Fajã da Caldeira é aproximadamente triangular, possui uma área que se aproxima de 1 km2 e é o único local do arquipélago onde se encontram ameijoas comestíveis (Venerupis decussatus).

Das plantas existentes nesta fajã, destacamos pela sua abundância as seguintes: o aloé (Aloe arborescens), a babosa (Opuntia ficus-barbarica), a figueira (Ficus carica), a salsa-burra (Daucus carota), o perrexil (Crithmum maritimum), a beterraba- marinha (Beta vulgaris maritima), o espinafre da ova Zelândia (Tetragonia tetragonioides) e a corriola (Convulvus arvensis)

No início do século XX, existiam na fajã de 70 a 80 fogos , no final da década de 90 do século passado a maioria dos edifícios existentes estava desocupada, notando-se alguma degradação. Na altura do sismo de 1 de Janeiro de 1980, existiam 35 fogos habitados por 90 pessoas.

Depois de sairmos da Fajã do Santo Cristo, passa-se pela Fajã dos Tijolos e pela Fajã do Belo e, depois de percorridos cerca de 3 km, chega-se à Fajã dos Cubres que, tal como aquela, teve origem num enorme desabamento de terras resultante de um sismo ocorrido a 9 de Julho de 1757, o mais violento sismo ocorrido nos Açores.

O nome desta fajã deve-se à abundância de Cubres (Solidago sempervirens), planta costeira de pequenas flores amarelas oriunda da costa oriental da América do Norte que, hoje, se encontra naturalizada em todas as ilhas.

A lagoa da Fajã dos Cubres possui uma forma irregular, com quatro pequenos ilhéus e sofre a acção das marés por difusão de água salgada através da barreira exterior de calhau.

Das plantas existentes nesta fajã destacamos: o junco-agudo (Juncus acutus), em quase toda a margem da lagoa, a salsa-burra (Daucus carota) e a erva-leiteira (Euphorbia azorica), esta última endémica dos Açores. A presença da erva estuarina Ruppia maritima na lagoa da fajã dos Cubres é de grande importância, porque, até há bem pouco tempo, este era o único local conhecido dos Açores onde ela existia.

Nesta fajã podemos observar algumas aves com destaque para o Cagarro (Calonectris diomedea borealis), a narceja (Gallinago gallinago), a gaivota (Larus cachinnans atlantis); e o garajau-comum (Sterna hirundo).

Teófilo Braga

(Terra Nostra 7 de janeiro de 2005)

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