sexta-feira, 28 de junho de 2019

TRANSGÉNICOS


TRANSGÉNICOS

Uma acção de arranque de milho transgénico ocorrida no Algarve, curiosamente a primeira região do país declarada livre de plantações com organismos geneticamente modificados (OGM), pela respectiva Associação de Municípios, quase passou despercebida nos Açores.

Apenas tivemos conhecimento, através de uma reportagem publicada num jornal diário, que um dirigente de uma associação de lavradores de São Miguel, sempre à procura de protagonismo e de conseguir “dinheiro fácil”, não se importando com que meios, para aqueles que diz defender, admitiu no futuro a utilização de milhos transgénicos nos Açores. Felizmente, mais bem informado e cauteloso, o presidente da Federação Agrícola dos Açores entende que “se deve aguardar por mais estudos sobre o que poderá advir para a saúde pública”.

Sabemos que, ao contrário do que dizem os defensores dos transgénicos, que afirmam a pés juntos que estes são inócuos para a saúde, nunca foram feitos estudos sérios e independentes para confirmar tal facto.

Os transgénicos, para além de potenciais riscos para a saúde e para a agricultura poderão ter um impacto muito grande na biodiversidade, não só das espécies selvagens, mas também das cultivares.

Outra questão que se levanta é a da subjugação dos agricultores aos interesses das grandes empresas. Com efeito, acordo com Manuel Batista, biólogo e geneticista, grandes firmas como a Monsanto “asseguram os seus lucros, vendendo aos agricultores,
não simplesmente sementes transgénicas, como também um contrato extremamente restritivo (por exemplo,o agricultor não pode oferecer as sementes a outro; tem de usar exclusivamente as tais sementes; é obrigado a aceitar consumir herbicidas e pesticidas da Monsanto, etc...).”

De acordo com informações recolhidas através da leitura dos jornais dos Açores, o Presidente do Governo Regional dos Açores terá assinado em 14 de Abril de 2005 uma petição para a Região integrar a "Rede Europeia das Regiões Livres de OGM". Aplaudimos o facto e apelamos para que as Secretarias Regionais do Ambiente e do Mar e a da Agricultura e Florestas, promovam debates com vista a esclarecer as poplulações acerca das razões que levaram a tal assinatura e acerca do que são os OGM, vantagens e inconvenientes consumo e cultivo dos mesmos nos Açores.

Nesta matéria, tal como em muitas outras, como a das radiações electromagnéticas, é preciso não esquecer e aplicar o principio da precaução, isto é “na ausência da certeza científica formal, a existência de um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever este dano”.

E quando for o Estado (ou a Região) a ignorar e a desrespeitar tal princípio, aos cidadãos não lhes resta outra alternativa: a desobediência civil, não compactuando com injustiças e barbaridades cometidas em nome de interesses privados ou do pretenso interesse público.

(Publicado no Jornal “Terra Nostra”, 28 de setembro de 2007)

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