segunda-feira, 24 de junho de 2019

O MELHOR RESÍDUO É O QUE NÃO SE PRODUZ


O MELHOR RESÍDUO É O QUE NÃO SE PRODUZ

De acordo com alguns estudos, na Região Autónoma dos Açores a produção de resíduos sólidos urbanos apresenta uma tendência de evolução crescente, sendo que cada habitante é responsável por uma produção diária de cerca de 1,4 kg, valor que é superior ao verificado em Portugal Continental. Em ilhas de reduzidas dimensões, como as nossas, os resíduos exigem uma gestão integrada correcta e cuidadosa, constituindo o crescente consumo de recursos uma prática completamente insustentável.
É de lamentar que não se envolvam os cidadãos na gestão dos resíduos, uma vez que são eles os responsáveis pela sua produção, sendo importante inverter esta realidade através de uma aposta na educação ambiental. Considera-se, ainda, que é contraproducente ter uma recolha diária, porta-a-porta, dos resíduos sólidos urbanos, uma vez que assim se desincentivam os cidadãos de efectuar a separação dos resíduos e de se deslocar ao ecoponto mais próximo.
Além disso, não se entende que se enfatize tanto a reciclagem, já que esta acção, em termos de prioridade, corresponde ao 3.º e último R da política dos três R’S. É extremamente importante que se sensibilize e eduque o cidadão por forma a promover a implementação dos outros dois: a redução e a reutilização. Não se percebe por que não é lançada nenhuma campanha e não são tomadas quaisquer medidas que levem à redução da produção de resíduos, quer por parte do público quer das cadeias de distribuição. Por que razão não se penalizam as embalagens descartáveis e não se incentivam os sistemas de retorno de embalagens, contribuindo, assim, para a poupança de energia e de matérias-primas?
Estando uma parte importante da população das nossas ilhas dispersas por zonas rurais, e sendo uma percentagem significativa dos resíduos sólidos urbanos constituída por matéria orgânica, por que razão não é feito um esforço com vista a divulgar a compostagem doméstica? O composto produzido poderia ser utilizado nos própios quintais, evitando-se assim a chegada aos aterros sanitários de muitas toneladas de resíduos e poupando-se na aquisição de fertilizantes.
Existindo em algumas localidades recolhas diárias de resíduos indiferenciados, porta-a-porta, e sabendo-se que só assim se conseguem elevados níveis de recuperação de resíduos, por não apostam as respectivas autarquias na recolha selectiva?
Por último, e sabendo-se que, na sombra, os lobies da queima, continuam a tentar vender um modelo centralizado de eliminação de resíduos - incineração ou plasma - a política dos três R’S não se destina apenas a embalar as criancinhas?
Teófilo Braga
(Publicado no Jornal “Terra Nostra”, 16 de Março de 2007)

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