sábado, 29 de junho de 2019

Património Geológico, Eterno Esquecido?


Património Geológico, Eterno Esquecido?

Durante muitos anos, a sociedade apenas valorizou o património cultural e biológico e praticamente ignorou o geológico. A este propósito, no prefácio ao livro “Património Espeleológico da Ilha de São Miguel”, editado, em 1994, pelos Amigos dos Açores- Associação Ecológica, o Prof. Doutor Victor Hugo Forjaz, depois de se referir ao facto do património geológico ter sofrido danos irremediáveis causados por obras públicas e privadas, escreve o seguinte: “Em altos cargos municipais e governamentais ainda há quem pense que o Ambiente apenas enquadra a “bicharada” e as espécies botânicas que nos rodeiam; a paisagem vulcânica, frequentemente apaixonante e por vezes rara, não os toca, não os sensibiliza”. Galopim de Carvalho, no livro “Introdução ao Estudo dos Minerais”, editado em 2002, diz-nos que não existe uma cultura geológica nacional a qual “está patente, por exemplo, na pobreza de terminologia geológica nos escassos diplomas legais onde, a custo, se pode encaixar o património geológico”. A provar que a situação não é apenas Regional ou Nacional, o Geólogo Espanhol Manuel Ortiz, em artigo publicado, no presente ano, na revista de Educação Ambiental “Aula Verde”, aponta como causas, para o facto do património geológico ser praticamente desconhecido da maior parte do grande público, a sua escassa divulgação por parte da “administração ambiental”.

Nos Açores, sobretudo devido à pressão exercida pelas mais diversas entidades, nos últimos anos, têm sido dados passos importantes para a conservação e valorização do património geológico, com a classificação de alguns espaços como Monumento Natural. São exemplos, a “Pedreira do Campo”, em Santa Maria, cuja proposta de classificação terá partido da Secção de Biologia Marinha (Dep. Biologia, Univ. Açores), CIRN/UA (Centro de Investigação de Recursos Naturais, Univ. Açores) e Ordem dos Biólogos (Delegação Regional dos Açores) (Cachão et al s/d) e o “Pico das Camarinhas e Ponta da Ferraria” e a “Gruta do Carvão”, na ilha de São Miguel, cujas propostas de classificação foram da responsabilidade dos Amigos dos Açores- Associação Ecológica (Amigos dos Açores, 1987 e Amigos dos Açores, 1988).

A demonstrar a sensibilidade para com o património geológico por parte dos governantes regionais para a importância do património geológico está a criação, em 2002, do GESPEA – Grupo para o Estudo do Património Espeleológico dos Açores, de que fazem parte as duas Organizações Não Governamentais de Ambiente de âmbito regional, Amigos dos Açores e Montanheiros, o qual, por Resolução do Conselho do Governo n.º 103/2005, de 16 de Junho de 2005, ficou com a incumbência de elaborar o Plano Sectorial das Cavidades Vulcânicas e dos Monumentos Naturais Regionais existentes na Região Autónoma dos Açores, o qual tem, entre outros, o objectivo de “estabelecer orientações para a gestão territorial das Cavidades Vulcânicas e dos Monumentos Naturais Regionais, nomeadamente das grutas e algares vulcânicos, fendas e grutas de erosão e dos seus valores ecológicos, estéticos, científicos e culturais”.

Digno de registo está, ainda, o facto de a componente geológica ter tido um peso importante na classificação de uma parte significativa das cerca de 40 áreas protegidas terrestres dos Açores.

A nós açorianos, cabe o papel de continuar a pressionar, as mais diversas entidades responsáveis pela gestão do património geológico, no sentido deste passar a desempenhar um papel fundamental como recurso, não apenas para o turismo, mas sobretudo para o ensino, nomeadamente da Geologia e da Vulcanologia, bem como instrumento de Educação Ambiental ao serviço de uma Região mais justa, limpa e pacífica.

Teófilo Braga
(Terra Nostra, 26 de outubro de 2007)

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