sábado, 29 de junho de 2019

Impactes Ambientais da Abertura ao Público de Grutas Vulcânicas



Impactes Ambientais da Abertura ao Público de Grutas Vulcânicas


O património geológico pode e deve desempenhar um papel fundamental como recurso para o ensino, nomeadamente da Geologia e da Vulcanologia, bem como contribuir para a formação de cidadãos conscientes, capazes de trabalhar em prol de um desenvolvimento sustentável.

A abertura ao público, tornando possíveis visitas a tubos ou algares vulcânicos com os mais diversos fins, nomeadamente educacionais ou turísticos, pode ser responsável por diversos impactes ambientais.

Os visitantes, para além de poderem deixar resíduos diversos, poderão destruir diversas estruturas geológicas, como estalactites e estalagmites. Nos Açores, sobretudo na ilha Terceira, onde há uma tradição de visita às cavidades vulcânicas é possível encontrar em grutas como a dos Balcões, a do Natal, a do Coelho e a das Agulhas restos de recipientes usados para transportar refeições e baterias eléctricas bem como observar diversas estruturas geológicas destruídas.

A introdução de sistemas de iluminação artificial poderá modificar as condições climáticas das cavidades, nomeadamente aumentar a temperatura, e alterar o seu ecossistema. Nos Açores, Paulo Borges e Fernando Pereira, numa comunicação apresentada em 2004) também, consideram que o decréscimo da densidade do artrópode endémico Trechus terceiranus no Algar do Carvão (ilha Terceira) está associado à utilização da luz artificial naquele algar.

Em casos de excesso de visitantes a concentração de dióxido de carbono poderá, também, sofrer aumentos significativos. Esta alteração poderá ameaçar a fauna cavernícola, sobretudo as espécies troglóbias, já que estas são muito sensíveis a pequenas alterações dos parâmetros ambientais.

Para minimizar alguns impactes, podem ser tomadas algumas medidas como limitar o período de visitação e o número de visitantes em cada visita, abrir ao público apenas alguns troços, em vez da luz branca utilizar iluminação cenográfica colorida, etc.

Como as soluções têm de ser diferentes para cada uma das cavidades vulcânicas sugere-se que sejam utilizados sistemas de monitorização das alterações climáticas provocadas pelos sistemas de iluminação e pelos visitantes e elaborados e implementados planos de gestão de todas as cavidades vulcânicas abertas ao público nos Açores.

No caso da Gruta do Carvão (Troço do Paim), algumas medidas preventivas foram tomadas, como é o caso do limite do número de participantes em cada visita que é de 15 pessoas, a iluminação em que se utiliza "luz fria", de baixa potência e que só é activada durante os períodos das visitas e a instalação, para breve, de um equipamento para monitorização da qualidade do ar interior, com medição de CO2, CO, Temperatura e Humidade Relativa.

Teófilo Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, 23 de novembro de 2007)

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